Temos opiniões mistas a respeito dos programas formais de jardim de infância para crianças de quatro e cinco anos. Um programa que combine iniciação à leitura e à escrita com vários trabalhos de arte e brincadeiras pode ser produtivo. Mas é raro que uma criança de cinco anos não esteja pronta pra fazer muito trabalho de lápis e papel, assim como é raro uma criança de seis anos que não tenha passado pelo jardim de infância não possa facilmente fazer o trabalho da primeira série.
“Sempre consigo diferenciar quem passou pelo jardim de infância daqueles que não passaram”, disse uma professora da primeira série para Susan.
“Eles estão muito à frente?” Perguntou Susan.“Não” ela disse, “mas eles já sabem como ficar na fila”.
O Jardim de Infância de fato ensina as crianças de cinco anos a ficarem na fila, a esperarem para ir ao banheiro, a levantarem a mão quando querem fazer uma pergunta, e a andarem pela cantina sem derramar a comida. Mas, se você está ensinando seu filho em casa, essas não são habilidades de sobrevivência que ele deve saber de cara.
O Jardim de Infância para crianças de quatro anos consegue bem menos. A maioria das crianças de quatro anos têm atenção microscópica, coordenação motora imatura, e se contorcem muito. Crianças normais de quatro anos variam amplamente em seus níveis de maturidade: um deles pode estar pronto para ler mas totalmente desinteressado em escrever; outro pode gostar de desenhar e de trabalhos manuais mas mostrar nenhum desejo em ler; um terceiro pode gostar de jogar partidas infinitas de Uno mas rejeitar qualquer coisa relacionada à letras e palavras.
Achamos que não existem muitos motivos para se seguir um currículo acadêmico formal do Pré 1 e Pré 2 em casa. Ao invés disso, os primeiros quatro ou cinco anos de vida de uma criança devem ser gastos em ensino informal -- preparando a criança para a primeira série. Com aproximadamente trinta minutos por dia, mais o ensino informal da vida em família, você pode facilmente iniciá-lo em leitura, escrita e conceitos matemáticos, tudo sem livros didáticos ou manuais de professores.
Se você já estiver ensinando uma criança mais velha em casa, seu filho de quatro anos vai te implorar pra você “fazer escolinha” com ele. No final do capítulo, recomendamos vários programas de leitura e matemática que manterão seu anjinho ocupado no canto da mesa enquanto a irmã mais velha faz matemática de segundo grau na outra ponta. Mas tente não pensar nesses currículos como “trabalho de escola” ou então encontrará um aluno sem vontade para “terminar aquela página” quando a atenção há muito estiver perdida.
Ao invés disso, você deve ensinar a ler e matemática do mesmo jeito que você ensinou a criança a falar, a amarrar o sapato, a se vestir, e a se limpar -- demonstrando você mesmo as habilidades básicas, praticando com ela um pouquinho por alguns minutos todo dia, e falando sobre elas ao longo da rotina da vida
“Nós somos quatro. Quantas colheres você deve pôr na mesa pra que cada um de nós ganhe uma?” “Em qual é a lata está escrita a palavra Tomate? Consegue ver o T de t, t, tomate?”.
Você pode usar gráficos, fitas, jogos, livros didáticos e adesivos se quiser. Mas não é uma regra.
LEITURA
Uma educação clássica depende fortemente da palavra escrita. Enquanto pai-educador, seu objetivo número-um deve ser o de fazer o seu filho ler fluentemente quando ele começar o trabalho da primeira série.
Aí vai a boa notícia: Ler é simples.
E vamos repetir: Ler é simples.
Mais uma vez: Ler é simples.
Infelizmente, o primeiro mandamento da educação americana parece ser “Deverás ser um expert antes de tentares ensinar teu filho a ler”. Não é verdade. Esqueça tudo que você escutou sobre decodificação, consciência fonêmica, e habilidades de compreensão. Se uma criança de cinco anos consegue entender, você também pode¹.
Ler é simples. Frederick Douglass, assim como Abraham Lincoln, Benjamin Franklin, e milhares de crianças de pioneiros oitocentistas, aprenderam a ler com o alfabeto e alguns bons livros. Douglass aprendeu o ABC de um adulto e obteve o resto da sua competência de leitura através de um garoto de rua. Eu (Jessie) aprendi a ler com um conjunto de blocos de alfabeto. Entre as idades de quatro e seis anos, qualquer criança para a qual se tenha lido desde o início e que não esteja sofrendo de algum transtorno orgânico pode aprender a ler. E qualquer adulto razoavelmente letrado (o que inclui qualquer pessoa que possa ler este livro) pode servir de tutor para habilidades fônicas básicas. Continue a trabalhar nos nomes das letras e nos sons. Ímãs de geladeira em letra minúscula são uma boa forma de fazer isso. Você pode dar a criança um "B" e dizer. “B, b, b, baleia”; você pode dizer, “Mariazinha, pegue pra mim a letra que diz t, t, t” e Mariazinha irá até a geladeira e decidirá qual letra faz aquele som.
Em algum momento dos quatro ou cinco anos, a maioria das crianças estão prontas para começar a ler. Sente com um livro simples que ensine fonemas -- os sons que as letras fazem quando elas estão combinadas em palavras. O livro Ordinary Parent’s Guide to Teaching Reading, de Jesse Wise, contém instruções passo-a-passo sobre como ensinar a ler desde os estágios iniciais, começando com os sons das letras misturando lentamente os sons em leitura de palavras e frases reais. Essa primeira parte é feita para fazer as crianças -- mesmo as bem jovens -- a ler rapidamente e com confiança; caligrafia e soletração podem ser adiadas até que a criança tenha coordenação motora suficiente para escrever sem se frustrar.
Evolua sistematicamente com o livro. Vá devagar, com muita repetição; releia as lições até que seu filho esteja totalmente confortável com os sons e a combinação deles em palavras. Faça isso por cinco minutos para começar; trabalhe até dez ou quinze minutos por sessão.
Em outro momento do dia, sente com seu filho e um “livro de verdade” e o deixe ler. (...) Não se esqueça que você já fez seu trabalho. Dê à criança uma boa chance para que ela fale, mas se ela ficar presa, diga a palavra e continue. Se você chegar até uma palavra que use uma regra que ela ainda não usou. simplesmente a diga qual regra é e continue.
CRIANÇA: Ana pegou as escadas e ------ (aponte para a palavra “desceu”)
VOCÊ: Se diz “desceu”. O s e o c juntos se diz apenas “sss”. Des-ceu.
CRIANÇA - desceu.
Se você não sabe a regra, diga a palavra para o seu filho e siga em frente (procure a regra depois).
(...)
No início da aprendizagem, é melhor ficar com leituras suplementares que sejam estritamente fonéticas. Mas à medida que ele se tornar mais confiante nas próprias habilidades em dizer as palavras, ele vai querer ler livros simples que contenham palavras “visuais” que não seguem as regras fonéticas (e que ele terá de reconhecer de vista). Tais palavras usadas frequentemente nos livros infantis incluem: mãe, companhia, narizinho, chamar, que, velha, bicho, olhos, seguir, vermelho, chuva, queijo, ninho, nenhum, espelho. (...) Faça cartões com essas palavras e ensine aos poucos à medida que elas aparecem nos livros. Mas não as ensine isoladamente. Espere até elas ocorrerem nos livros iniciantes. Ler é mais bem ensinado no contexto de conteúdo significativo. E você não quer que seu leitorzinho adquira o hábito de memorizar palavras inteiras em vez de soar os elementos fonéticos de cada palavra.
Comece com cinco minutos de prática e cinco minutos de leitura num livro simples todos os dias. Aumente para até quinze minutos todos os dias. Não pergunte “Quer fazer sua leitura agora?” (Eles sempre dizem não). Faça como você faria na hora de escovar dos dentes ou ao arrumar a cama. Você ficará impressionado com a velocidade com que as crianças começam a soar as palavras sozinhas.
A vantagem desse método é que você não está limitado pelo que você lê com a criança; se você dizer palavras que estão além do nível de prática dela, juntos, vocês poderão ler praticamente qualquer coisa da sessão “fácil” ou “iniciante” da biblioteca. E você perceberá que seu filho terá absorvido algumas regras antes mesmo de vê-las na cartilha. Se você dizer várias vezes, enquanto lê: “a letra m só vem seguida do p e do b” -- é por isso que tanto não é igual a também”, seu pequeno leitor vai aceitar essa regra quando ela vier e dizer “eu já sabia”.
E é isso. Lembre-se: Ler é simples. Ler é simples. Ler é simples.
Não precisamos de músicas, exercícios, livros didáticos e quadros? Nós achamos que não, e por várias razões. Pra começar, muitas pessoas que ensinam crianças de quatro ou cinco anos também têm crianças ou recém-nascidos. (Susan tinha os dois quando o seu filho mais velho estava com cinco anos). Separar imagens e músicas e tentar seguir um programa com muita ajuda faz do ensino algo mais complicado do que precisa ser. Com nosso método, tudo que você precisa é de uma cartilha e muitos livros. Em segundo lugar, todos esses reforços e ajudas criam degraus mentais para o aprendiz. Se você estiver ensinando a criança a cantar a música “A de amor, B de baixinho…” você está ensinando a ver um a, pensar em “amor”, e depois no som curto do a.
Imagens: Tarsila do Amaral - O Vendendor de Frutas(1925)
¹De qualquer forma, não fique surpreso se você for desencorajado por educadores profissionais. Eu (Jessie) fui verbalmente abordado vinte e cinco anos atrás quando procurei um professor de leitura para Susan. Ele perguntou: “O que você acha que está fazendo, ensinando o seu filho a ler por si mesmo?”. Eu fiquei tão intimidada que eu nunca lhe pedi ajuda de novo. Por outro lado, uma professora da primeira série que estava ensinando com sucesso todos os os alunos dela a ler me direcionou ao material fônico que ela estava usando para que eu mesmo pudesse tê-lo. Infelizmente, o material foi revisado até o ponto de tornar-se irreconhecível